Por Redação – | Curitiba – Julho de 2025
A cena política paranaense volta a acompanhar, com espanto e desconfiança, o retorno de um nome marcado por controvérsias e irregularidades eleitorais. Cristina Graemel, ex-candidata à Prefeitura de Curitiba, anunciou sua intenção de disputar uma vaga no Senado Federal pelo Podemos, partido com forte presença no Paraná. Porém, antes mesmo de qualquer oficialização da candidatura, a ex-jornalista já enfrenta um pesado fardo que ameaça inviabilizar sua nova empreitada eleitoral: dívidas, multas e rejeição de contas de campanhas anteriores.
A situação de Cristina é, segundo especialistas consultados, um dos mais emblemáticos casos de passivo eleitoral em aberto atualmente no Paraná. E os números não deixam dúvidas: são mais de R$ 168 mil em multas somente por propaganda irregular, somados a um complexo de omissões bancárias, ausência de prestação de contas, dívidas não quitadas e uso irregular de recursos partidários, que tornaram seu nome uma verdadeira bomba-relógio jurídica.
Multas que somam uma fortuna: propaganda fora da lei
Cristina Graemel responde por quatro multas eleitorais já executadas e com valores atualizados até 8 de julho de 2025, conforme apuração feita junto à 004ª Zona Eleitoral de Curitiba. Todas estão diretamente relacionadas a infrações de propaganda eleitoral cometidas em pleitos passados. Veja os valores:
- Multa 1: R$ 97.937,06
- Multa 2: R$ 32.659,44
- Multa 3: R$ 32.628,71
- Multa 4: R$ 5.438,12
Total em multas atualizadas: R$ 168.663,33
Essas penalidades decorrem de práticas como:
- Veiculação de propaganda fora do período permitido por lei;
- Utilização de materiais sem identificação de CNPJ e tiragem;
- Instalação de faixas, outdoors e painéis em locais proibidos;
- Distribuição irregular de santinhos e adesivos em vias públicas.
A Justiça Eleitoral, por meio de decisões assinadas pelo juiz Dr. Marcelo Mazzali, fixou prazos de 15 dias úteis para pagamento voluntário, sob pena de inscrição na dívida ativa da União e abertura de execuções fiscais.
Contas rejeitadas, omissões bancárias e uso indevido de verbas
Se as multas já representam um problema significativo, a situação contábil da ex-candidata agrava ainda mais o cenário. Cristina Graemel responde por:
- Contas de campanha rejeitadas por ausência de comprovação de receitas e despesas;
- Falta de movimentação financeira na conta bancária obrigatória do Diretório Municipal do PMB em Curitiba, presidido por ela à época;
- Dívidas não declaradas com fornecedores e prestadores de serviços de campanha;
- Indícios de uso indevido, sem comprovação da destinação legal;
- Sobras de campanha não devolvidas ao Partido PMB, como determina a legislação eleitoral.
Em linguagem técnica da Justiça Eleitoral, os documentos falam em “omissão de informações bancárias obrigatórias”, “incongruência contábil com movimentações reais”, “não apresentação de extratos e comprovantes” e “ausência de documentação de suporte para despesas informadas”.
Ministério Público cobra e Justiça avança
Todas essas pendências têm sido acompanhadas de perto pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), que move ações com base na Lei da Ficha Limpa (LC nº 135/2010). Essa lei impede a candidatura de pessoas com contas rejeitadas ou pendências graves junto à Justiça Eleitoral.
Segundo o advogado Leonardo Carneiro, especialista em direito eleitoral, “a situação não se resume a uma ou outra falha. É um conjunto de irregularidades graves e reincidentes que apontam para má gestão e possível dolo. O risco de inelegibilidade é altíssimo, e há, inclusive, possibilidade de bloqueio de bens, inscrição do CPF na dívida ativa da União e ação de responsabilização civil e fiscal pessoal.”
O Podemos e o dilema da pré-candidatura
Mesmo com esse histórico, Cristina tenta se reposicionar politicamente por meio do Podemos, partido com bancada no Senado e lideranças locais influentes. Entretanto, a legenda ainda não oficializou a filiação nem tampouco a pré-candidatura da ex-jornalista, e bastidores indicam que há forte resistência interna à sua entrada, especialmente por parte de nomes ligados à ala mais conservadora do partido.
Um dirigente estadual ouvido sob condição de anonimato resumiu:
“É um nome com visibilidade, mas com muitos passivos jurídicos. Hoje o Podemos não pode se dar ao luxo de carregar esse tipo de ônus. Estamos avaliando com critério jurídico e político.”
O silêncio de Cristina e o desgaste público
Procurada pela reportagem, Cristina Graemel não se pronunciou oficialmente sobre as multas ou sobre a possibilidade de se tornar inelegível. Em suas redes sociais, mantém discurso ativo e crítico, mas evita qualquer menção às cobranças judiciais e às decisões da Justiça Eleitoral.
Enquanto isso, parte do eleitorado paranaense que votou nela em eleições anteriores cobra explicações. Setores da imprensa que acompanharam sua trajetória no PMB também apontam que a ex-candidata não cumpriu obrigações básicas enquanto esteve à frente do Diretório Municipal, e que os processos contra ela “refletem desorganização, descaso e irresponsabilidade administrativa”.
O futuro político em xeque
Diante de tantas irregularidades, a eventual candidatura ao Senado torna-se altamente improvável sem que Cristina regularize suas pendências com urgência — algo pouco viável neste momento do calendário eleitoral.
Além da possibilidade de indeferimento imediato pelo Tribunal Regional Eleitoral, ela pode ser alvo de novas sanções, especialmente se tentar burlar a legislação eleitoral ou omitir informações em registros futuros. O impacto político disso, caso avance a tentativa de candidatura, pode se refletir também na imagem do próprio Podemos.
Conclusão: quando o passado pesa mais que a intenção
O caso de Cristina Graemel é um retrato das consequências da má gestão política, administrativa e contábil. O retorno à vida pública requer mais do que discurso e presença online — exige lisura, regularidade e respeito à legislação.
Em tempos de maior escrutínio público e institucional, figuras que acumulam passivos jurídicos não encontram mais espaço fácil nas urnas. A Justiça Eleitoral, o eleitorado e os próprios partidos cobram, hoje, muito mais do que intenção de disputar eleições. Cobram coerência, responsabilidade e ficha limpa.