Por Marcello Sampaio | Política em Pauta – GVPCOM News
Uma nova rodada da pesquisa eleitoral realizada pela Quaest e divulgada nesta quinta-feira (5) revela mudanças significativas no mapa ideológico do eleitorado brasileiro às vésperas das eleições presidenciais de 2026. Mais do que medir intenção de votos, o levantamento traz um retrato atual das posições políticas dos brasileiros – e sinaliza uma possível fragmentação da direita e o fortalecimento do centro como fiel da balança eleitoral.
A pergunta feita aos entrevistados — “Na escala de posições políticas, em qual grupo você se encaixa?” — gerou os seguintes resultados:
- Lulista/Petista – 14%
- Não é Lulista/Petista, mas mais à esquerda – 15%
- Sem posicionamento político definido – 33%
- Mais à direita, mas não Bolsonarista – 23%
- Bolsonarista – 11%
- Não sabe/não respondeu – 4%
A divisão dos grupos mostra um país com 29% alinhado à esquerda, 34% à direita e um bloco expressivo de 33% no centro, sem identificação clara com ideologias ou lideranças partidárias. Os números são interpretados por especialistas como um reflexo da crescente despersonalização da política e da busca por alternativas fora do embate direto entre lulismo e bolsonarismo.
Direita se distancia de Bolsonaro
Para o cientista político Emerson Cervi, professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o dado mais simbólico da pesquisa é a redução da influência direta de Jair Bolsonaro sobre os eleitores de direita.
— “A direita ainda é o maior campo ideológico do país, com 34%, mas o bolsonarismo representa apenas 11% disso. Isso mostra que Bolsonaro deixou de ser a principal âncora desse espectro. Dois terços dos direitistas já não o consideram mais seu representante”, analisa Cervi.
Segundo o pesquisador, isso indica um esvaziamento progressivo da liderança de Bolsonaro dentro do próprio campo ideológico que o alçou ao poder em 2018.
Lulismo é inflado pelo cargo
Na outra ponta, o lulismo aparece com 14%, pouco acima do bolsonarismo. No entanto, Cervi avalia que essa diferença pode estar mais relacionada à posição de Lula como chefe do Executivo do que a uma fidelidade ideológica profunda.
— “Quando se pergunta diretamente por Lula, é provável que haja uma inflação dos números por conta de sua posição como presidente. Quem está no poder tende a atrair apoio automático de parte da população. Isso também ocorreu com Bolsonaro em 2022″, afirma.
Por isso, para o cientista político, os 14% que se declaram lulistas podem não representar uma base fiel, mas sim um apoio circunstancial ligado ao governo atual.
Centro: o verdadeiro protagonista
O dado mais estratégico da pesquisa, segundo Cervi, está na parcela de 33% que não se identifica com nenhuma corrente ideológica clara.
— “Esse é o eleitorado do centro — mesmo que ele não se reconheça como tal. Esse grupo vai pender à esquerda ou à direita de acordo com variáveis como economia, inflação, emprego, saúde. É o chamado voto de ocasião. E quem conseguir falar com esse grupo, pode vencer em 2026″, explica o especialista.
O centro, cada vez mais, se consolida como o elemento decisivo das disputas eleitorais, principalmente em cenários polarizados como o brasileiro.
Caminho aberto para novas lideranças
Com o bolsonarismo encolhendo e o lulismo potencialmente inchado, analistas acreditam que há espaço aberto para o surgimento de novas lideranças políticas à direita e ao centro-direita. O eleitor conservador parece disposto a seguir adiante sem a figura de Bolsonaro, e partidos como União Brasil, PSD, Novo e Republicanos já ensaiam movimentos nesse sentido.
Enquanto isso, a esquerda precisa consolidar seus 29% com ações concretas de governo que transformem o apoio conjuntural em fidelidade programática.
O que está em jogo:
- Bolsonaro não é mais unanimidade nem entre seus antigos apoiadores.
- Lula tem o desafio de converter governismo em lealdade política.
- O centro é volátil, pragmático e altamente influenciável por resultados econômicos.
- O Brasil caminha para 2026 menos polarizado, mas mais imprevisível.
O cenário está em movimento. E, como sempre, o eleitorado de centro — silencioso, mas decisivo — será o grande juiz das urnas.
Política em Pauta, com Marcello Sampaio
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