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Por Marcello Sampaio – GVPCom News

Por mais de duas décadas, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) tem sido palco de denúncias, prisões, assassinatos e acusações graves que se estendem desde a década de 1990 até os dias atuais. O que deveria ser uma instituição voltada para defender os direitos dos trabalhadores se tornou um ambiente marcado por disputas de poder, corrupção e, segundo investigações do Ministério Público, práticas criminosas dignas de organizações mafiosas.

O Começo de Tudo: A Morte de Aristides “Tigrinho” da Silva

Em 1998, o então presidente do Sindimoc, Aristides da Silva, conhecido como Tigrinho, foi brutalmente assassinado em Itapoá, Santa Catarina. O crime nunca foi plenamente esclarecido, mas, segundo relatos da época, ele estaria envolvido em disputas internas pelo comando do sindicato, que movimentava cifras milionárias. A morte de Tigrinho abriu caminho para uma nova geração que viria a se perpetuar no comando da entidade.

Uma Linha Sucessória Sob Suspeita

Após o assassinato de Tigrinho, um mesmo grupo manteve o controle do Sindimoc. Em 2009, o então secretário-geral do sindicato, Alcir Teixeira, também foi assassinado. De acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), Teixeira pretendia denunciar irregularidades graves na administração do sindicato. O histórico de violência e intimidação que marcou essas décadas revela a face obscura da disputa pelo poder dentro da entidade.

O Escândalo de 2010: Operação Waterfront

Em 2010, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a operação Waterfront, que desmantelou um esquema milionário de desvio de recursos do sindicato. Foram apreendidos mais de R$ 120 mil em espécie na sede do Sindimoc e outros R$ 15 mil na casa do então diretor financeiro Valdecir Bolette. Quatro pessoas foram presas, incluindo Denílson Pires, presidente do sindicato e vereador de Curitiba pelo DEM.

O advogado da entidade, Valdenir Dielle Dias, ex-vereador cassado da capital e aliado político de Beto Richa, também foi preso. Curiosamente, Valdenir era o mesmo homem que havia articulado, nos bastidores, a derrubada de Willy Taguchi da presidência do PMN no Paraná. Denílson Pires foi acusado de usar a estrutura e os recursos do sindicato para se eleger vereador e de manter assessores fantasmas na Câmara Municipal.

Apesar das prisões e da repercussão, a estrutura criminosa permaneceu intocada, e o controle da entidade continuou nas mãos de nomes que se revezavam no comando, inclusive Anderson Teixeira.

Anderson Teixeira: O Herdeiro do Trono

Anderson Teixeira, que assumiu posteriormente a presidência do sindicato, era visto por muitos como uma promessa de renovação. No entanto, com o passar dos anos, seu nome passou a figurar nas mesmas denúncias que derrubaram seus antecessores.

Em diversas entrevistas, Anderson relatou que sofreu atentados e perseguições políticas, inclusive afirmando ter escapado de tentativas de homicídio em 2010. No entanto, os anos passaram e o comportamento de Anderson parece ter seguido os mesmos vícios dos antigos líderes do Sindimoc: poder absoluto, acusações de corrupção e um sistema de apadrinhamento.

O Escândalo de 2025: A Nova Queda

Em 2025, a história se repetiu. Anderson Teixeira foi afastado do cargo após nova operação do Ministério Público, que investiga o desvio de aproximadamente R$ 607 mil dos cofres do sindicato. O escândalo atinge também outros seis integrantes da diretoria, todos denunciados por uma série de crimes, incluindo 120 episódios de apropriação indébita e formação de quadrilha.

O que chama a atenção é que Anderson também ocupava a presidência do partido Mobiliza, sucessor do antigo PMN no Paraná – o mesmo PMN que, anos antes, havia sido comandado por Valdenir Dielle Dias, agora falecido.

A investigação atual revela que parte dos recursos desviados teria sido utilizada para campanhas eleitorais e manutenção de poder dentro do sindicato, além de beneficiar diretamente Anderson e seus aliados políticos, entre eles nomes que hoje ocupam cadeiras na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. Há indícios de que Anderson mantém fortes vínculos com pré-candidatos ao governo do Paraná.

Uma Estrutura Que Precisa Ser Interrompida

O histórico de crimes e acusações que permeiam o Sindimoc há pelo menos 25 anos sugere que a instituição nunca conseguiu se desvencilhar das práticas nocivas ao trabalhador. O sindicato parece ter se transformado, ao longo do tempo, em um verdadeiro bunker de interesses pessoais e políticos, onde o enriquecimento ilícito e a perpetuação no poder se sobrepõem à defesa dos motoristas e cobradores.

A pergunta que permanece é: por que até hoje o Sindimoc segue nas mãos das mesmas figuras ou seus herdeiros políticos? Por que os órgãos de controle ainda não decretaram uma intervenção na entidade?

Para muitos, é hora de romper esse ciclo de corrupção, instalar uma auditoria independente e devolver o sindicato às mãos de representantes legítimos da categoria.

A história do Sindimoc não pode continuar sendo escrita pelos mesmos que há décadas se beneficiam de um sistema que oprime e explora aqueles que deveriam ser protegidos.

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