Por Marcello Sampaio – GVPCom News
A Câmara Municipal de Maringá viveu nesta quarta-feira (27) uma das sessões mais tensas e emblemáticas de sua história política recente. Com 20 votos favoráveis e apenas 2 contrários, o Legislativo decidiu pela cassação do mandato da vereadora Cristianne Costa Lauer (Novo), conhecida como Cris Lauer.
Eleita em 2024 com 7.531 votos, recorde absoluto para uma parlamentar da cidade, Cris Lauer deixa o cargo após pouco mais de um ano de mandato. Apenas os vereadores Daniel Malvezzi (Novo) e Giselli Bianchini (PP) votaram contra a medida. Com a decisão, a vaga será ocupada pelo suplente José Carlos Pacífico, o Professor Pacífico.
Linha do Tempo do Caso Cris Lauer
2024 – Eleição histórica: Cris Lauer é eleita com votação recorde, tornando-se a vereadora mais votada da história de Maringá.
2024/2025 – Denúncia apresentada: investigação aponta que um servidor comissionado de seu gabinete, ocupando cargo de chefia, atuava em processos particulares enquanto recebia salário pago com recursos públicos.
Primeira instância judicial: Justiça condena Cris Lauer por enriquecimento ilícito, após constatar o uso de verba pública para custear advogado particular. A sentença suspendeu seus direitos políticos por 11 anos, inviabilizando sua participação em futuras eleições.
2025 – Comissão Processante na Câmara: relatório assinado pelos vereadores Willian Gentil (PP), Sidnei Telles (Podemos) e Maninho (Republicanos) conclui pela comprovação de improbidade administrativa.
27 de agosto de 2025 – Sessão de cassação: com votação expressiva de 20 a 2, o plenário decide pela perda definitiva do mandato.
Repercussão e próximos passos
A sessão foi marcada por clima tenso e grande acompanhamento popular, tanto presencial quanto pelas transmissões oficiais. Nem a vereadora cassada nem seu advogado compareceram ao plenário.
Com a decisão, os servidores nomeados por Cris Lauer serão exonerados automaticamente pela presidência da Casa Legislativa. A defesa da ex-vereadora deve recorrer à Justiça em busca da reversão da cassação, embora enfrente o obstáculo da condenação já em primeira instância.
Depoimentos divergentes
A favor da vereadora (defensores):
- “Cris Lauer foi a voz de milhares de eleitores que acreditaram em renovação política. A cassação não apaga o simbolismo da votação histórica que ela recebeu.” – Eleitor presente na sessão.
- “Ela pode ter cometido erros administrativos, mas a cassação foi um julgamento político, e não apenas jurídico.” – Militante do partido Novo.
Contra a vereadora (críticos):
- “A utilização de recursos públicos para benefício particular é inaceitável. O Legislativo fez o que precisava ser feito para proteger a credibilidade da Casa.” – Vereador da base governista.
- “A cassação mostra que ninguém está acima da lei. Mandato popular não é salvo-conduto para irregularidades.” – Professor de Direito da UEM.
Editorial – A Cassação de Cris Lauer: um divisor de águas na política de Maringá
A cassação do mandato da vereadora Cristianne Costa Lauer (Novo), decidida por ampla maioria, é mais do que um episódio jurídico-político isolado: trata-se de um marco que expõe as fragilidades, tensões e contradições da representação popular no Brasil.
Com votação recorde em 2024, Cris Lauer se consolidou como símbolo de renovação e resistência ao modelo político tradicional. Porém, menos de dois anos depois, deixa a cadeira legislativa não pela vontade do povo, mas pela força da lei e pelo julgamento de seus pares.
O peso do cargo exigia responsabilidade proporcional ao respaldo popular. Cris Lauer, ao utilizar um servidor comissionado para atividades privadas e verba pública para fins pessoais, perdeu essa condição. O plenário, por 20 votos a 2, apenas confirmou o inevitável.
A crítica de perseguição política encontra pouco respaldo quando analisamos o placar quase unânime. A mensagem transmitida é clara: não há blindagem nem mesmo para a vereadora mais votada da história da cidade.
Opinião crítica
O caso Cris Lauer escancara a tensão entre a força do voto popular e a responsabilidade ética dos representantes eleitos. Embora tenha recebido a maior votação da história de Maringá, a vereadora caiu por práticas que ferem a confiança no uso do dinheiro público.
Se por um lado sua cassação fortalece o discurso de que ninguém está acima da lei, por outro levanta reflexões importantes: até que ponto o julgamento de parlamentares não se mistura com disputas políticas? Até que ponto os eleitores conseguem aceitar que sua vontade soberana nas urnas pode ser anulada por falhas administrativas?
O episódio, sem dúvida, é um divisor de águas para a política maringaense. Ele demonstra que o mandato popular não é salvo-conduto para abusos e que o controle social e institucional sobre os políticos está cada vez mais rigoroso.
Editorial assinado por Marcello Sampaio – Jornalista e especialista em política, GVPCom News – Coluna Política em Pauta