Por Marcello Sampaio – Jornalista Investigativo
O recente caso de assédio sexual envolvendo o guarda municipal Cleverson Plath de Oliveira Silva, de Araucária, escancarou uma ferida silenciosa que ainda persiste em instituições públicas de segurança: a violência contra mulheres cometida dentro dos próprios órgãos encarregados de protegê-las.
A denúncia foi registrada pela guarda municipal subordinada a Plath, com quem dividia turnos e patrulhas. Ela apresentou relatos de episódios recorrentes de aproximações constrangedoras, insinuações de cunho sexual, pressão psicológica e ameaças veladas, conforme consta na investigação conduzida pela Promotoria de Justiça de Araucária.
Uma denúncia que rompeu o silêncio
O ato de denunciar um superior imediato, num ambiente notoriamente masculino e hierarquizado, é raro — e corajoso. A guarda, cujo nome é mantido sob sigilo, relatou ao Ministério Público que tentou inicialmente resolver o impasse internamente, mas não encontrou acolhimento nem medidas protetivas.
A apuração do caso, com apoio operacional do GAECO, incluiu buscas na sede da Guarda e também na residência de Plath, em Campo Largo. A apreensão de seu celular pessoal é considerada chave para reforçar as provas já reunidas.
População se mobiliza
Movimentos de mulheres, coletivos universitários e sindicatos da educação prometem um ato simbólico na Praça da Bíblia, em Araucária, exigindo a responsabilização do servidor.
“Não é aceitável que homens armados, pagos com dinheiro público, utilizem sua autoridade para oprimir mulheres dentro da própria estrutura pública”, declarou Ana Paula Borges, do Coletivo Mulheres Unidas por Justiça.
Medidas preventivas e legislação
A Lei nº 13.718/2018, que trata do assédio sexual e da importunação ofensiva à dignidade da mulher, é clara quanto às penas previstas para esse tipo de conduta, podendo levar à perda do cargo público, pagamento de indenização e até pena de reclusão.
No caso de servidores armados, a responsabilização costuma ser agravada. O Juiz da Vara Criminal de Araucária determinou que Plath seja monitorado eletronicamente e proibido de adquirir, registrar ou portar arma de fogo.
Reflexo político
Na Câmara de Vereadores, o caso gerou forte comoção. Um requerimento de informações será protocolado para que a Secretaria de Segurança detalhe todos os procedimentos disciplinares abertos nos últimos cinco anos.
“Precisamos entender se este caso é pontual ou se existe um padrão de abuso e silêncio dentro da GM”, afirmou um vereador
O prefeito de Araucária, Gustavo Botogoski, ainda não se manifestou oficialmente.
O que está em jogo
O jornalista investigativo Marcello Sampaio conclui que o caso Plath não é apenas sobre um homem acusado de assédio, mas sobre o modelo de segurança pública que queremos em nossas cidades:
“Quando uma mulher precisa denunciar seu agressor dentro da corporação que deveria protegê-la, toda a estrutura está falhando. O uniforme não pode ser escudo para a impunidade.”
As investigações seguem em sigilo, mas o alerta está dado. Nenhuma mulher deve sentir medo no ambiente de trabalho. E nenhum homem, fardado ou não, está acima da lei.