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Opinião | Em vez de polemizar o grafite, que tal limpar de verdade a cidade de Araucária?

Por Marcello Sampaio
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Em sua recente visita à cidade de Araucária, o empresário Luciano Hang, o “Véio da Havan”, resolveu gravar um vídeo criticando o que chamou de “visual sujo” da cidade, com imagens de muros pichados e degradados — comparando a paisagem urbana a um “filme de terror”. O conteúdo foi amplamente compartilhado por um vereador local, gerando polêmica nas redes sociais e nos grupos de conversa da cidade.

O problema é que, ao tentar demonstrar preocupação com o aspecto visual de Araucária, Hang acabou misturando vandalismo com arte urbana e cometeu um erro conceitual grave: apontou como pichação um grafite feito com autorização da APMI (Associação de Proteção à Maternidade e à Infância), produzido por artistas da Associação Reação Periférica (ARP), que já é reconhecida pelo trabalho de transformação social por meio da arte.

O muro citado no vídeo, localizado em frente a uma das lojas do empresário, foi grafitado com autorização expressa da entidade, em um projeto cultural que envolveu artistas locais. “Essa ação visa promover a cultura, apoiar talentos da comunidade e tornar o espaço urbano mais acolhedor”, explicou a direção da APMI em nota.

A crítica descabida de Hang, que talvez não saiba distinguir um ato de vandalismo de uma intervenção artística legitimada, acendeu uma discussão importante: por que tanta energia é gasta na desqualificação do grafite — que é arte urbana, sim — enquanto a cidade continua, de fato, tomada por muros depredados, terrenos abandonados, fachadas descascadas e calçadas cheias de mato?

Marco Peri, presidente da ARP, resumiu bem o sentimento dos artistas locais ao repudiar o vídeo. “O grafite é muito mais que um ‘desenho bonito’. É uma expressão de origem periférica e política, que nasceu da necessidade de ocupar e se fazer ouvir nos espaços urbanos”, disse. Peri também criticou o uso do discurso conservador para tentar reinterpretar a história da arte urbana com viés moralista e superficial.

A crítica que falta: e se todos fizessem sua parte?

Não se trata aqui de blindar a arte do debate. Toda arte é política e deve, sim, ser discutida. Mas o que chama a atenção neste episódio é o direcionamento da crítica: é fácil apontar o dedo para o artista de periferia. Difícil é convocar os verdadeiros responsáveis pela degradação da cidade.

Se a preocupação é com a aparência de Araucária — e ela é legítima — então que tal articular uma força-tarefa coletiva? Em vez de gravar vídeos estigmatizando a cultura de rua, por que empresários, Prefeitura, ACIAP (Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Araucária), donos de imóveis abandonados e coletivos culturais não se unem em um mutirão de revitalização urbana?

A cidade carece, sim, de cuidado. Mas esse cuidado começa com políticas públicas sérias: fiscalização de terrenos baldios, aplicação de multas a proprietários que mantêm imóveis em estado de abandono, incentivo a projetos culturais de intervenção artística e educação visual para a população. Afinal, ninguém quer morar ou investir em uma cidade visualmente negligenciada.

Cabe também à Prefeitura cobrar a limpeza de fachadas, calçadas e lotes particulares. A cidade precisa ser cuidada por todos: pelo cidadão que joga lixo na rua, pelo comerciante que não pinta sua fachada há anos, pelo poder público que precisa fiscalizar, e pelas entidades que podem mobilizar.

Enquanto isso, artistas como os da ARP continuam fazendo o que o poder público muitas vezes não faz: humanizar espaços esquecidos, levar cor onde só havia cinza, e lembrar que a cidade pertence a todos — inclusive a quem mora e se expressa nas margens.


Editorial por Marcello Sampaio
Jornalista, Grupo GVPCom de Comunicação
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