Por Marcello Sampaio – GVPCom News | Política e Fiscalização Pública
Mais um episódio de aparente descaso com o dinheiro público revolta os moradores de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. Um servidor comissionado, lotado no alto escalão da Prefeitura como Assessor Executivo do Prefeito, foi flagrado utilizando horário de expediente para participar de grupos de WhatsApp, enquanto deveria estar executando funções estratégicas no gabinete do chefe do Executivo municipal.
Com um salário bruto de quase R$ 14 mil mensais, o assessor foi visualizado “online” às 10h25 da manhã desta quinta-feira (6), horário comercial e de plena atividade na administração pública. A conduta levanta sérias dúvidas sobre a produtividade do servidor e, sobretudo, sobre a capacidade de supervisão do prefeito Gustavo Botogoski (PL) sobre seus subordinados diretos.
População cobra respostas
A revolta tomou conta das redes sociais e da própria população que frequenta os órgãos públicos da cidade. Para muitos, trata-se de mais um caso clássico de apadrinhamento político, onde cargos importantes são usados como cabide de emprego, sem qualquer compromisso com a eficiência ou com a ética administrativa.
“Enquanto a gente enfrenta fila no posto de saúde e falta de professor na escola do meu filho, tem gente ganhando quase 14 mil para ficar no zap? É uma vergonha!”, protestou Marta Lemos, mãe de três filhos e moradora do bairro Capela Velha.
“Isso aí é falta de respeito com quem trabalha de verdade. A gente paga imposto todo mês pra sustentar vagabundo?”, disparou Seu Alceu Ramos, aposentado e morador do Jardim Califórnia.
“Eles colocam os amigos no gabinete e fingem que está tudo certo. Depois vêm pedir voto dizendo que tão fazendo gestão moderna. Isso é modernidade?”, ironizou Carlos Henrique de Oliveira, estudante de administração pública.
Ato pode configurar improbidade
Segundo especialistas em direito administrativo consultados pela reportagem, a conduta do servidor e a omissão do prefeito na fiscalização do trabalho dos assessores pode configurar ato de improbidade administrativa, por violar princípios básicos da administração pública como a eficiência, moralidade e o interesse público.
O caso será formalmente denunciado aos órgãos de controle, como o Ministério Público do Paraná (MPPR), o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) e a própria Câmara Municipal de Araucária, que tem o dever constitucional de fiscalizar o Executivo.
“A legislação é clara: servidor comissionado deve exercer função de direção, chefia ou assessoramento, com dedicação exclusiva. Ficar ocioso ou engajado em redes sociais durante o expediente caracteriza desvio de finalidade”, explica o advogado Renato Braga, especialista em gestão pública.
Silêncio do prefeito
Até o fechamento desta reportagem, o prefeito Gustavo Botogoski (PL) não se manifestou oficialmente sobre o caso. A ausência de explicações apenas reforça o clima de indignação e desgaste político dentro da própria base aliada, que teme os impactos negativos da repercussão às vésperas do ano eleitoral.
Este não é o primeiro episódio de polêmica envolvendo comissionados da atual gestão. Desde o início do mandato, Botogoski tem sido alvo de críticas por manter uma estrutura administrativa considerada inflada, com altos salários e pouca transparência nas funções atribuídas a seus indicados.
Clamor por fiscalização e ética
Com a imagem da administração municipal sob pressão, a expectativa agora recai sobre os órgãos fiscalizadores e o Ministério Público, que devem se posicionar nas próximas semanas. Para os moradores, a paciência acabou.
“Não dá mais para aceitar que político trate a prefeitura como se fosse empresa da família. Se o prefeito não tomar providência, vai ser cúmplice dessa pouca vergonha”, resume Joana Silva, comerciante do bairro Fazenda Velha.
Se você tem denúncias de mau uso do dinheiro público, procure os canais oficiais de controle ou envie informações para a editoria de fiscalização da GVPCom News.
Texto: Marcello Sampaio | Edição: Isabela Salustiano
Imagem ilustrativa: redes sociais